Mário Matins: Polícia faz operação mais letal da história do RJ, com ao menos 25 mortos

ALEPE

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Polícia faz operação mais letal da história do RJ, com ao menos 25 mortos

 






Uma operação da Polícia Civil do Rio de 

Janeiro que ocorre nesta quinta-feira (6) 

na comunidade do Jacarezinho, na zona

norte carioca, deixou até agora 25 mortos 

e já é considerada a mais letal da história, 

segundo pesquisadores, organizações e 

profissionais que atuam na área.


De acordo com o Grupo de Estudos dos 

Novos Ilegalismos da UFF (Universidade

Federal Fluminense), que possui uma 

base de dados iniciada em 1989, nunca 

houve uma ação única com essa

quantidade de óbitos. O maior total 

recente ocorreu no Complexo do 

Alemão em 2007, com 19 vítimas.


"Esse número de mortes só se compara 

às chacinas de Vigário Geral [21 mortos, 

em 1993] e da Baixada [Fluminense em

 2005, com 29 mortos], mas provocadas

 em operações extralegais. É preciso 

responsabilizar os agentes políticos 

responsáveis por essa ação", afirma o

 coordenador do grupo, Daniel Hirata.

Tanto a chacina de Vigário como a da

 Baixada foram provocadas por policiais. 

Contudo, a atuação deles foi clandestina, 

como parte da ação de grupos de 

extermínio, e não numa operação oficial

 como a desta quinta.

Desde o início da manhã, moradores 

relatam intensos tiroteios e veículos 

blindados e helicópteros da corporação 

transitando pela favela, que é plana e 

é tida pela polícia como um dos principais

 locais de atuação da facção criminosa

 Comando Vermelho.

Operação policial no Jacarezinho é apontada como mais letal da história do Rio de Janeiro (Foto: Mauro Pimentel/AFP)



Imagens de helicóptero da TV Globo que sobrevoava a região por volta das 7h da manhã mostraram 

policiais se protegendo atrás de postes

 próximos a uma linha de trem e, em 

outro momento, criminosos armados 

com fuzis fugindo por cima de casas da

 comunidade.

"Meu dia terminou antes de começar", 

diz um jovem que mora ao lado do 

Jacarezinho e teve que colocar o fone 

para conseguir conversar com a 

reportagem, por causa do barulho de

 aeronaves. Criado na favela, ele está em 

contato desde cedo com a mãe, familiares 

e amigos que moram ali, . Ele não quis 

ser identificado.

Ele afirma que há diversos relatos, vídeos 

e fotos de corpos nas vielas. Há também 

acusações de torturas e invasões de casas 

por policiais. Parte dos mortos teriam sido 

baleados dentro de uma casa.

Um dos 25 mortos foi o policial civil André 

Frias, 45, que trabalhava na Delegacia 

de Combate às Drogas (Dcod) e chegou

 a ser levado para o Hospital Municipal 

Salgado Filho ao ser atingido na cabeça,

 mas não resistiu. A unidade recebeu 

outra vítima que não teve a identidade

 divulgada.

A Secretaria Municipal de Saúde também 

confirmou ao menos outras três pessoas

 feridas. Uma, não identificada, segue 

internada em quadro estável. O segundo,

 Rafael Moreira, 33, deixou a unidade por 

conta própria. O terceiro, Humberto Gomes

 Duarte, 20, também está estável no 

Hospital Municipal Souza Aguiar.

Os dois últimos estavam dentro de um

 vagão do metrô que passava pela altura

 da estação de Triagem, em Benfica, 

bairro próximo, quando um projétil 

atingiu um vidro da composição. 

Segundo o MetrôRio, um foi atingido 

por estilhaços de vidro e o outro, de 

raspão no braço.

Vídeo publicado pelo jornal O Dia mostra 

passageiros no chão, em desespero, 

ajudando no socorro. Por causa da 

ocorrência, a operação da Linha 2 

chegou a ser interrompida, mas voltou

 a funcionar. Linhas de trens da 

SuperVia também foram alteradas 

durante o tiroteio e já foram normalizadas.

A Polícia Civil não divulgou balanço da 

operação até o momento e marcou uma 

entrevista coletiva para quando a ação 

acabar, sem horário definido. A Polícia 

Militar afirmou apenas que a ocorrência

 não está a cargo da corporação.

Por volta das 7h30, a Polícia Civil 

divulgou uma nota dizendo que seus 

agentes realizavam a Operação Exceptis 

no Jacarezinho, contra traficantes que 

vinham aliciando crianças e adolescentes

 para integrar a facção criminosa 

Comando Vermelho, que domina a região.

Segundo a corporação, os criminosos 

exploram práticas como tráfico de drogas,

 roubo de cargas, roubos a transeuntes, 

homicídios, entre outros. Eles também 

teriam sequestrado trens da SuperVia em 

dezembro de 2020 e abril de 2021.

A investigação começou a partir de

 informações recebidas pela Delegacia

 de Proteção à Criança e ao Adolescente

 (DPCA), que coordena a ação com apoio 

de outras unidades do Departamento 

Geral de Polícia Especializada (DGPE),

 do Departamento Geral de Polícia da 

Capital (DGPC) e da Coordenadoria de 

Recursos Especiais (Core).

Após o acesso a dados de celulares, 

foram identificados 21 integrantes que 

seriam "responsáveis por garantir o 

domínio territorial da região com utilização

 de armas de fogo". "Foi montada uma 

estrutura típica de guerra provida de 

centenas de 'soldados' munidos com fuzis,

 pistolas, granadas, coletes balísticos, 

roupas camufladas e todo tipo de acessórios

 militares", diz a polícia.

A corporação afirma ainda que o Jacarezinho

 é considerado um dos quartéis-generais do 

Comando Vermelho, com "uma quantidade

 relevante de armamentos, que seriam 

utilizados nas retomadas de territórios 

perdidos para facções rivais ou para se 

reforçar de possíveis investidas policiais".

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