Uma operação da Polícia Civil do Rio de
Janeiro que ocorre nesta quinta-feira (6)
na comunidade do Jacarezinho, na zona
norte carioca, deixou até agora 25 mortos
e já é considerada a mais letal da história,
segundo pesquisadores, organizações e
profissionais que atuam na área.
De acordo com o Grupo de Estudos dos
Novos Ilegalismos da UFF (Universidade
Federal Fluminense), que possui uma
base de dados iniciada em 1989, nunca
houve uma ação única com essa
quantidade de óbitos. O maior total
recente ocorreu no Complexo do
Alemão em 2007, com 19 vítimas.
"Esse número de mortes só se compara
às chacinas de Vigário Geral [21 mortos,
em 1993] e da Baixada [Fluminense em
2005, com 29 mortos], mas provocadas
em operações extralegais. É preciso
responsabilizar os agentes políticos
responsáveis por essa ação", afirma o
coordenador do grupo, Daniel Hirata.
Tanto a chacina de Vigário como a da
Baixada foram provocadas por policiais.
Contudo, a atuação deles foi clandestina,
como parte da ação de grupos de
extermínio, e não numa operação oficial
como a desta quinta.
Desde o início da manhã, moradores
relatam intensos tiroteios e veículos
blindados e helicópteros da corporação
transitando pela favela, que é plana e
é tida pela polícia como um dos principais
locais de atuação da facção criminosa
Comando Vermelho.
Imagens de helicóptero da TV Globo que sobrevoava a região por volta das 7h da manhã mostraram
policiais se protegendo atrás de postes
próximos a uma linha de trem e, em
outro momento, criminosos armados
com fuzis fugindo por cima de casas da
comunidade.
"Meu dia terminou antes de começar",
diz um jovem que mora ao lado do
Jacarezinho e teve que colocar o fone
para conseguir conversar com a
reportagem, por causa do barulho de
aeronaves. Criado na favela, ele está em
contato desde cedo com a mãe, familiares
e amigos que moram ali, . Ele não quis
ser identificado.
Ele afirma que há diversos relatos, vídeos
e fotos de corpos nas vielas. Há também
acusações de torturas e invasões de casas
por policiais. Parte dos mortos teriam sido
baleados dentro de uma casa.
Um dos 25 mortos foi o policial civil André
Frias, 45, que trabalhava na Delegacia
de Combate às Drogas (Dcod) e chegou
a ser levado para o Hospital Municipal
Salgado Filho ao ser atingido na cabeça,
mas não resistiu. A unidade recebeu
outra vítima que não teve a identidade
divulgada.
A Secretaria Municipal de Saúde também
confirmou ao menos outras três pessoas
feridas. Uma, não identificada, segue
internada em quadro estável. O segundo,
Rafael Moreira, 33, deixou a unidade por
conta própria. O terceiro, Humberto Gomes
Duarte, 20, também está estável no
Hospital Municipal Souza Aguiar.
Os dois últimos estavam dentro de um
vagão do metrô que passava pela altura
da estação de Triagem, em Benfica,
bairro próximo, quando um projétil
atingiu um vidro da composição.
Segundo o MetrôRio, um foi atingido
por estilhaços de vidro e o outro, de
raspão no braço.
Vídeo publicado pelo jornal O Dia mostra
passageiros no chão, em desespero,
ajudando no socorro. Por causa da
ocorrência, a operação da Linha 2
chegou a ser interrompida, mas voltou
a funcionar. Linhas de trens da
SuperVia também foram alteradas
durante o tiroteio e já foram normalizadas.
A Polícia Civil não divulgou balanço da
operação até o momento e marcou uma
entrevista coletiva para quando a ação
acabar, sem horário definido. A Polícia
Militar afirmou apenas que a ocorrência
não está a cargo da corporação.
Por volta das 7h30, a Polícia Civil
divulgou uma nota dizendo que seus
agentes realizavam a Operação Exceptis
no Jacarezinho, contra traficantes que
vinham aliciando crianças e adolescentes
para integrar a facção criminosa
Comando Vermelho, que domina a região.
Segundo a corporação, os criminosos
exploram práticas como tráfico de drogas,
roubo de cargas, roubos a transeuntes,
homicídios, entre outros. Eles também
teriam sequestrado trens da SuperVia em
dezembro de 2020 e abril de 2021.
A investigação começou a partir de
informações recebidas pela Delegacia
de Proteção à Criança e ao Adolescente
(DPCA), que coordena a ação com apoio
de outras unidades do Departamento
Geral de Polícia Especializada (DGPE),
do Departamento Geral de Polícia da
Capital (DGPC) e da Coordenadoria de
Recursos Especiais (Core).
Após o acesso a dados de celulares,
foram identificados 21 integrantes que
seriam "responsáveis por garantir o
domínio territorial da região com utilização
de armas de fogo". "Foi montada uma
estrutura típica de guerra provida de
centenas de 'soldados' munidos com fuzis,
pistolas, granadas, coletes balísticos,
roupas camufladas e todo tipo de acessórios
militares", diz a polícia.
A corporação afirma ainda que o Jacarezinho
é considerado um dos quartéis-generais do
Comando Vermelho, com "uma quantidade
relevante de armamentos, que seriam
utilizados nas retomadas de territórios
perdidos para facções rivais ou para se
reforçar de possíveis investidas policiais".
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